segunda-feira, 7 de abril de 2014

A hipótese da pluri-individualidade da vida

"A Vida é uma, disse o Buddha, e o Caminho do Meio para o término do sofrimento em todas as suas formas é aquele que conduz ao término da ilusão, da separação, e permite ao homem ver claramente que toda a humanidade e todas as demais formas manifestas são uma só unidade, uma infinidade de aparências diversas de um mesmo e indivisível Todo."


Do ponto de vista biológico, o que é um indivíduo?


  • De acordo com a Wikipedia, indivíduo é um sinônimo para organismo.
  • Um organismo (do grego organismós, "conjunto") é o conjunto de órgãos que constituem um ser vivo.
  • Um órgão (do latim organum, "instrumento, ferramenta", do grego όργανον (órganon), "órgão, instrumento, ferramenta") é um grupo de tecidos que formam uma função específica ou grupo de funções.
  • Um tecido é um conjunto de células especializadas, iguais ou diferentes entre si, separadas ou não por líquidos e substâncias intercelulares, que realizam determinada função num organismo multicelular.
  • As células são as unidades estruturais e funcionais dos organismos vivos. A maioria dos organismos, tais como as bactérias, são unicelulares (consistem em uma única célula). Outros organismos, tais como os seres humanos, são pluricelulares.


De acordo com a descrição dada acima, uma célula é um organismo vivo e, portanto, um ser vivo individual, que por sua vez, é composto por partes menores como organelas e estruturas especializadas.


Esta afirmação deve abranger todas as células existentes, sejam elas constituintes de organismos pluricelulares ou unicelulares, visto que cada célula de um determinado organismo pluricelular pode sobreviver independentemente do seu organismo de origem, se a mesma estiver em um ambiente propício à sua sobrevivência. Um bom exemplo é uma cultura de células tronco utilizadas nas pesquisas médicas. Neste caso, as células estão completamente separadas do organismo que as originou, no entanto, sobrevivem naturalmente.

Devo salientar que, o que estou afirmando, é que em um ambiente semelhante ao ambiente que a célula está acostumada, a mesma sobreviverá sem maiores problemas. Nós mesmos não poderíamos sobreviver num ambiente muito diferente ao que estamos acostumados como, por exemplo, o espaço. Por isso, as espaçonaves criam um ambiente semelhante ao da superfície terrestre, completamente isolado do ambiente hostil do espaço, ao qual não sobreviveríamos.

As células são realmente as unidades fundamentais da vida?


Sim, em parte!

Existe um debate sobre a classificação do vírus como um ser vivo, já que o mesmo não executa todas as etapas do ciclo da vida: nascer, crescer, reproduzir e morrer. O vírus não consome energia durante seu período isolado, ou latente. Durante esse período, ele não é considerado como um ser vivo. Somente após invadir uma célula hospedeira e tomar posse de suas funções vitais é que ele passa a ser considerado como ser vivo, passando a produzir cópias de si mesmo, ou seja, reproduzindo-se, e consumindo energia no processo.

Além disso, existe atualmente uma corrente de pensamento que considera as células aeróbias (que respiram Oxigênio) como sendo simbiontes com outro organismo vivo unicelular, a mitocôndria. Acredita-se, atualmente, que as mitocôndrias, mais do que simples organelas especializadas em executar a respiração celular, são células que inicialmente evoluíram, de forma independente das outras células anaeróbias, em um planeta onde a concentração de Oxigênio aumentava gradativamente por consequência do processo de fotossíntese executado pelas colônias de bactérias que viviam nas águas rasas dos oceanos primitivos, conhecidos como Estrematólitos, e pelas reações químicas que ocorriam no gelo das eras glaciais que também liberavam Oxigênio.


Como o processo de respiração aeróbia produz mais energia que a anaeróbia, as células anaeróbias passaram a englobar mitocôndrias, dando-lhes proteção e alimento em troca de toda a energia excedente que a mitocôndria podia oferecer. Neste momento, as células, agora aeróbias, passaram a dispor de energia suficiente para executar tarefas mais complexas e evoluir. Alguns cientistas acreditam que esta simbiose foi a chave para a evolução de todos os organismos pluricelulares, sem a qual, este importante passo evolutivo jamais teria sido dado.


Para completar, preciso citar os Mixomicetos, do filo Myxomycota. Fazem parte dos "fungos protistas", ou seja, pertencem ao Reino Protista, mas apresentam alguma semelhança com os fungos verdadeiros. São seres plasmodiais (que formam plasmódios), pois se unem em uma massa móvel de células, mas sem parede celular. Assim, cada célula não permanece individualizada.


Em determinada fase da vida, os Mixomicetos, que individualmente se parecem com amebas, misturam seus citoplasmas numa grande massa móvel, tornando-se um único organismo multi-nucleado contendo milhões de núcleos, que migram para um determinado local para amadurecer e  formar esporos como os fungos.


Nos casos apresentados acima, não fica clara a definição de unidade fundamental da vida. Pelo contrário, parecem existir diversas definições para organismo, indivíduo e unidade fundamental da vida. Parece haver, nestes casos, uma aproximação biológica nas definições de individualidade e coletividade, de organismos constituintes e organismos constituídos. Parece que os limites entre o que é indivíduo e o que é coletivo não são bem definidos biologicamente; que, sob certos aspectos biológicos, podemos considerar um conjunto de indivíduos como um único indivíduo.

Uma célula é um indivíduo, que pode ser constituída por um grupo de outros indivíduos celulares menores.
Da mesma forma, os seres vivos superiores, pluricelulares, são constituídos de um ou mais grupos especializados de organismos celulares simbiontes que os definem como indivíduos complexos.

Herança genética nos seres vivos superiores como pilar da simples individualidade da vida?


Sabemos que o código genético das células que constituem um único organismo pluricelular é idêntico. A diferenciação ou especialização das células ocorre a partir de uma única célula ovo (em alguns casos, por esporos, ou por bipartição do organismo). Então, como podemos ser um organismo formado por diversos organismos individuais e relativamente independente, se cada unidade desse organismo possui a mesma identidade do todo, ou seja o mesmo código genético?

Em primeiro lugar, é incorreto afirmar que cada unidade de um determinado organismo pluricelular possui a mesma identidade genética que o organismo como um todo. Os seres humanos, por exemplo, além de serem constituídos das células de mesmo código genético, originadas a partir da célula ovo, são também constituídos, em número ainda maior (cerca de dez vezes mais), de outros seres, completamente simbiontes, como as bactérias da flora intestinal, sem as quais não sobreviveríamos.

As bactérias e outros seres unicelulares se multiplicam por divisão celular, gerando réplicas geneticamente idênticas às células originadoras, contudo são indivíduos independentes.

Por último, devemos atentar para o caso dos gêmeos idênticos. Estes indivíduos possuem exatamente o mesmo código genético, e ainda assim possuem características individuais próprias.

Ampliando o conceito da pluri-individualidade


Tomando por base a hipótese de pluri-individualidade podemos ampliar o conceito para indivíduos ou organismos ainda mais complexos.

Podemos identificar o mesmo ciclo da vida em organizações mais complexas de indivíduos ou organismos. Uma civilização, por exemplo, tem seu nascimento em uma determinada época, cresce e se desenvolve, reproduz quando dá início a outras civilizações, e morre.


A própria evolução das espécies se dá de forma semelhante a um ciclo da vida, nascendo quando uma nova espécie surge, crescendo quando o número de indivíduos dessa espécie aumenta, reproduzindo quando dá origem à novas espécies derivadas, e morrendo com a extinção da própria espécie.

Neste sentido, podemos considerar a Biosfera como também um organismo vivo individual único, constituído por todos os seres vivos da Terra. A Biosfera nasceu há cerca de 4 bilhões de anos com o surgimento da vida na Terra, e ainda está crescendo com a evolução e a multiplicação da diversidade de vida e com o aumento de sua complexidade.


Seguindo, ainda, este raciocínio, podemos dizer que a Biosfera terá sua reprodução quando os organismos vivos originados dela passarem a colonizar outros planetas, o que pode acontecer acidentalmente, através de bactérias contidas em rochas arremessadas por impactos de meteoritos na Terra; ou planejada, com expedições colonizadoras para outros planetas.

A Biosfera morrerá quando o planeta Terra não mais tiver condições de abrigar a vida, o que provavelmente acontecerá em 5 bilhões de anos com a saída do Sol da sequência principal tornando-se uma estrela do tipo gigante vermelha.

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